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  • Writer's pictureJulio Sa - Ferrari

E se acontecesse com o seu filho, o que você faria?


As pessoas que sofrem abusos sexuais muitas vezes levam anos para conseguir falar sobre os fatos, ou porque demoram para se reconhecerem vítimas, ou porque sentem medo. Muitas vezes sentem-se ameaçadas pelo agressor, que não raro se encontra próximo das vítimas de abuso, ou porque temem que não creiam em seus relatos. Inclusive, equivocadamente chegam a se culpar de terem provocado o ocorrido.


Em vista disso, é necessário compreender e respeitar todo o tempo necessário para que as vítimas guardem silêncio antes de denunciarem os abusos que sofreram.


O silêncio e o bloqueio da memória são, muitas vezes, mecanismos de autodefesa das vítimas, porque a lembrança do ocorrido lhes causa grande sofrimento e pode, inclusive, tornar-se insuportável a ponto de conduzi-las ao suicídio.


Em fevereiro de 2018, veio a público a denúncia de um caso de abuso sexual de Maury Rodrigues da Cruz, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), com sede em Curitiba. Tal denúncia foi feita por Giulio Ferrari, filho de Gladiomar Saade de Castilhos, professora que, até então, trabalhava voluntariamente na instituição, muito próxima desse “médium” que afirma comunicar-se com espíritos como os de Dr. Leocádio José Correia, Antonio Grimm (dos Irmãos Grimm), Marina Fidélis, dentre outros.


A partir dessa denúncia, uma série de outras se seguiram, totalizando, até meados do mês de agosto de 2018, 57 (cinquenta e sete) denúncias registradas em cartório, que caracterizam o modus operandi de Maury Rodrigues da Cruz para aliciar suas vítimas, por meio da autoridade que lhes exercia sobre a fé, falando “em nome de espíritos”.


Quantas vítimas ainda se mantêm em silêncio, seja por ignorância, medo, vergonha..., ou já desencarnaram?


O Ministério Público denunciou Maury Rodrigues da Cruz por crimes de VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE e ESTELIONATO. E a denúncia foi aceita pelo Juiz responsável.


Diante da extrema gravidade das denúncias, grande número de pessoas se desligaram da SBEE, onde participavam voluntariamente de atividades diversas como os de atendimento ao público, coordenação de grupos de estudos, orientação de prostitutas e travestis, dentre outras tantas. E essas pessoas se dedicaram à SBEE não raro mediante renúncia a projetos profissionais e relacionamentos pessoais, dispondo de valioso tempo e energia de suas vidas.


Outras pessoas permanecem na SBEE, ou porque mantêm uma fé cega em seu líder, e/ou porque fogem do problema e das informações disponíveis, e/ou por dependência psicológica pelo sequestro de suas mentes, ou ainda por conivência e cumplicidade...

Muitas dessas pessoas alegam permanecer por considerarem “a obra maior”... Ora, que “obra maior” seria esta capaz de justificar crimes de tal ordem? Pergunto-lhes: E se tivesse acontecido com o seu filho, o que você faria?


É preciso coragem e desprendimento para enfrentar a verdade e defender a dignidade humana. Ainda que não nos consideremos vítimas diretas dos crimes praticados, somos corresponsáveis pela busca da justiça.


Curitiba, 15 de agosto de 2018.


Ex-integrante da SBEE

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